Qualidade do sono em pacientes com dores crônicas

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Este é um resumo do artigo “Sleep Quality in Chronic Pain Patients” dos autores: Kemal Sayar, Meltem Arikan, Tulin Yontem, aqui abordaremos os principais pontos encontrados por eles.

É alto o número de pacientes que possuem distúrbios de dor crônica não maligna e têm queixas de sono, estima-se que 50% a 88% deles não estão dormindo bem[1]Menefee LA, Cohen MJ, Anderson WR, Doghramji K, Frank ED, Lee H. Sleep disturbance and nonmalignant chronic pain: a comprehensive review of the literature. Pain Medicine. 2000 Jun 1;1(2):156-72..

Uma noite mal dormida afeta o dia a dia dos pacientes, além disso a falta de um sono restaurador não só atrapalha as atividades diárias, foi sugerido que os distúrbios do sono em pacientes com dor crônica pode aumentar a sensibilidade à dor e criar um ciclo de autoperpetuação de interrupção do sono, aumento da dor, e depressão.


Sintomas de insônia

SintomaDescrição
Problemas para adormecerDificuldade em adormecer, mesmo quando está cansado
Acordar frequentemente durante a noiteDespertares frequentes durante a noite ou de manhã cedo
Acordar muito cedoAcordar mais cedo do que o desejado e não conseguir voltar a dormir
Sono não restauradorAcordar cansado, apesar de ter passado bastante tempo na cama
Dificuldade de concentraçãoProblema para se concentrar em tarefas ou conversas devido à falta de sono
Irritabilidade ou alterações de humorSentir-se ansioso, frustrado ou nervoso devido à falta de sono
Sonolência diurnaSentir-se cansado ou sonolento durante o dia



Pacientes com dor crônica também experimentam alterações de humor. Descobriu-se que o sofrimento psicológico é mais intenso entre os pacientes com dor crônica e que também relatam sono ruim do que naqueles sem distúrbio do sono concomitante[2]Sayar K, Arikan M, Yontem T. Sleep quality in chronic pain patients. The Canadian Journal of Psychiatry. 2002 Nov;47(9):844-8..


Tipos de Insônia

DiagnósticoDefinição
Insônia PrimáriaInsônia para a qual nenhuma causa subjacente pode ser identificada. Não é causada por uma condição médica ou outro distúrbio do sono.
Insônia psicofisiológicaInsônia causada por fatores psicológicos e fisiológicos, como estresse ou desconforto físico.
Insônia ParadoxalInsônia associada a uma preocupação excessiva com o sono e incapacidade de adormecer ou permanecer dormindo.
Insônia comórbidaInsônia secundária a uma condição médica ou psiquiátrica, como depressão, ansiedade ou dor crônica.
Insônia Comportamental da InfânciaInsônia causada por rotinas muito longas, inconsistentes ou perturbadoras na hora de dormir.
Insônia idiopáticaInsônia de causa desconhecida, geralmente durando mais de seis meses.


Estudos – nível de dor e alterações do sono

Vários estudos descobriram uma correlação entre a intensidade da dor e o nível dos sintomas depressivos associados ao grau de comprometimento do sono. Alguns desses estudos descobriram que a gravidade da depressão, está mais ligada aos distúrbios do sono do que a intensidade da dor em si.

Vendo a série de acometimentos que a dor crônica e a qualidade do sono geram nos pacientes, os médicos responsáveis por esta pesquisa procuraram delinear os fatores preditores da qualidade do sono em pacientes com dor crônica e também comparar a qualidade de sono destes com indivíduos saudáveis, para avaliar quais fatores interferiam mais na qualidade do sono.

Métodos da pesquisa

Foram analisados 40 pacientes que sofriam de dores crônicas, durante os primeiros 6 meses do ano de 2000. Nenhum deles tomava medicamentos para alterar o sono ou tinham doenças conhecidas por interferir no sono. Como comparação, outros 40 indivíduos saudáveis participaram do estudo, estes não sofriam de dores.

Para avaliar a qualidade do sono foi utilizado o índice de qualidade do sono de Pittsburgh, um questionário de auto avaliação para um intervalo de 1 mês. Composto de 19 questões é um instrumento confiável e de validade estabelecida, ele fornece uma pontuação de 0 a 21, sendo que quanto mais alta a pontuação pior é a qualidade do sono.

Os achados

O estudo revelou que os pacientes com dor crônica são mais ansiosos, têm mais depressão e sofrem com uma má qualidade de sono, em comparação com indivíduos saudáveis analisados[3]Cheatle MD, Foster S, Pinkett A, Lesneski M, Qu D, Dhingra L. Assessing and managing sleep disturbance in patients with chronic pain. Anesthesiology clinics. 2016 Jun 1;34(2):379-93.

As taxas de transtornos depressivos entre pacientes com dor crônica são altas, variando de 30% para 87%.A depressão pode provocar dor crônica, aumentando a sensibilidade à dor e reduzindo os limiares de tolerância à dor.

A depressão secundária pode ocorrer como uma reação à dor crônica. Assim, a dor pode ser especificada tanto como causa quanto como efeito da depressão. Além da depressão associada a dor crônica, a ansiedade aparece como um terceiro quadro importante, concomitante a essas condições.

Os dados mostraram que, em relação a intensidade da dor, não houve relevância na qualidade do sono entre os dois grupos. Isso contrasta com algumas descobertas de pesquisas, em que a intensidade da dor foi associada à má qualidade do sono.

Os achados corroboram com o estudo de Atkinson e colaboradores no qual um dos vilões da satisfação no sono foi o humor deprimido.

Também confirma as descobertas de outro estudo realizado com pacientes com artrite reumatoide; nele, a análise de regressão múltipla revelou uma associação entre problemas de sono e depressão que era independente de dor, deficiência funcional e outras variáveis ​​demográficas[4]Mathias JL, Cant ML, Burke AL. Sleep disturbances and sleep disorders in adults living with chronic pain: a meta-analysis. Sleep medicine. 2018 Dec 1;52:198-210..



Por outro lado, o pesquisador Morin e seus colaboradores descobriram que indivíduos com queixas de sono relataram maior intensidade de dor e desconforto do que aqueles sem queixas de sono.Os resultados do estudo tema deste resumo implicam que a má qualidade do sono de pacientes com dor crônica é mediado por meio dos distúrbios emocionais.

A depressão causa distúrbios do sono em pacientes com dores crônicas, independente da intensidade e duração da dor e ansiedade.  

Por fim os médicos levantaram algumas ressalvas sobre a pesquisa:

1) Os dados sobre a qualidade do sono foram auto relatados, enquanto os distúrbios do sono são medidos com mais precisão com o uso de polissonografia e medidas subjetivas e objetivas da qualidade do sono não precisam se correlacionar bem entre si;

2) As descobertas são transversais por natureza e a direção de causalidade não pode ser determinada definitivamente;

3) O tamanho da amostra é relativamente pequeno para generalizar;

4) Muitos dos pacientes da amostra sofrem com dores de cabeça, que por si próprios pode constituir um grupo distinto. Esta população psiquiátrica é improvável que represente o grupo geral de pacientes com dor crônica.


Em conclusão, na amostra relativamente pequena, pacientes com dor crônica sofrem de má qualidade do sono, que é em função do humor deprimido, ao invés da intensidade, duração da dor ou ansiedade.

Referências Bibliográficas

Referências Bibliográficas
1 Menefee LA, Cohen MJ, Anderson WR, Doghramji K, Frank ED, Lee H. Sleep disturbance and nonmalignant chronic pain: a comprehensive review of the literature. Pain Medicine. 2000 Jun 1;1(2):156-72.
2 Sayar K, Arikan M, Yontem T. Sleep quality in chronic pain patients. The Canadian Journal of Psychiatry. 2002 Nov;47(9):844-8.
3 Cheatle MD, Foster S, Pinkett A, Lesneski M, Qu D, Dhingra L. Assessing and managing sleep disturbance in patients with chronic pain. Anesthesiology clinics. 2016 Jun 1;34(2):379-93
4 Mathias JL, Cant ML, Burke AL. Sleep disturbances and sleep disorders in adults living with chronic pain: a meta-analysis. Sleep medicine. 2018 Dec 1;52:198-210.

Dr. Marcus Yu Bin Pai

CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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