Insônia: o que pode ser?

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O que é insônia?

Uma dificuldade para iniciar ou manter o sono. Essa é a definição de insônia presente no documento Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, o qual foi produzido em 1997.

Até o presente, essa classificação é bastante usada por profissionais da medicina que tratam das disfunções relacionadas ao sono.

Quem sofre insônia, ainda que por uma ou duas noites, conhece os desdobramentos desse problema: cansaço, diminuição do ânimo, dificuldade de concentração e alterações bruscas de humor. Já a privação de sono na modalidade frequente e repetida impede o cérebro de funcionar adequadamente.

No caso de pessoas idosas, a insônia promove prejuízos cognitivos, acelerando as chances de hospitalização. Ela acarreta malefícios, chegando a reduzir a qualidade de vida do seu portador. A insônia induz o corpo a produzir quantidades exageradas do hormônio cortisol.

Alguns dos problemas de saúde associados à privação extensa de sono são:

Certos fatores predispõem indivíduos a desenvolverem insônia. São eles:

Fator de risco para insônia crônicaExplicação
IdadeA idade é um fator de risco para insônia crônica. Os adultos mais velhos têm maior probabilidade de sofrer de insônia devido a alterações biológicas associadas ao envelhecimento, como alterações nos ciclos sono-vigília e aumento da sensibilidade à luz e ao ruído.
GêneroAs mulheres são mais propensas a sofrer de insônia do que os homens devido a alterações hormonais associadas à menstruação e à menopausa. Além disso, as mulheres podem ter maior probabilidade de sofrer de estresse, depressão e ansiedade, o que pode contribuir para a insônia.
Estilo de vidaCertos hábitos de estilo de vida podem colocar as pessoas em risco de insônia crônica, como um horário de sono inconsistente, hábitos alimentares pouco saudáveis ou falta de exercícios. Além disso, trabalhar em turnos noturnos, ter um horário de trabalho irregular ou viajar com frequência podem interromper o ciclo natural de sono-vigília do corpo e levar à insônia.
História da FamíliaTer um histórico familiar de insônia pode aumentar o risco de desenvolver insônia crônica. Isso ocorre porque a genética pode desempenhar um papel na forma como o corpo regula o ciclo sono-vigília e como o corpo responde ao estresse.


Os tipos de insônia estão em dois grupos básicos:

Aguda ou transitória

Nesse primeiro grupo, o distúrbio dura até quatro semanas e geralmente envolve fatores estressantes como experimentar luto, perda de emprego, intensa expectativa ou preocupações em excesso.

É um tipo conhecido como insônia de ajuste.

Crônica

Na insônia crônica, o portador tem uma qualidade precária do sono por mais de quatro semanas. É comum que existam condições na rotina do paciente que se perpetuam, promovendo a insônia. Além disso, muitas vezes múltiplos fatores estão associados ao fenômeno. Por isso a avaliação desse tipo é mais complexa. Então, essa complexidade levou os estudiosos a criarem mais classes de insônia:

  • Psicofisiológica: o insone se preocupa excessivamente com a própria incapacidade de dormir. Assim, o próprio esforço para dormir produz excitação psicológica e condicionamento negativo para o sono.
  • Paradoxal: o paciente apresenta uma queixa grave de insônia, mas essa queixa não é compatível com o grau de déficit de sono que o paciente relata sentir durante o dia.
  • Idiopática: o paciente descreve que sua insônia é persistente, tendo começado na infância, não mostrando períodos de retrocesso. É difícil encontrar algum fator específico desencadeante ou perpetuador associado a ela.


Prevalência da insônia

insonia falta de sono

De todos os distúrbios do sono, a insônia é o mais citado. Estudos indicam que aproximadamente 6% dos adultos no mundo são acometidos por ela na versão crônica. Já a parcela que apresenta a forma transitória varia de 20% a 40%.

Como exposto acima, as mulheres experimentam mais insônia do que os homens. Um dos motivos para essa diferença são as flutuações hormonais a que a mulher em fase reprodutiva está sujeita.

Essas alterações levam a transtornos do sono, especialmente durante a gravidez e a menopausa. No que diz respeito à menopausa, os fenômenos vasomotores (fogachos noturnos) e os transtornos respiratórios, como a apneia do sono, são gatilhos para a insônia.


Patogênese da insônia

A insônia não é apenas um sintoma, mas pode ser também uma patologia além de um sintoma de alguma condição passageira ou perpetuante.

Então, ao procurar aconselhamento médico para a insônia, o ideal é que o paciente informe doenças pré-existentes, medicamentos prescritos, hábitos rotineiros que adota.

Quando um profissional da saúde não encontra uma doença específica associada à insônia, ela é considerada um transtorno primário.
Já a insônia secundária é aquela associada a uma doença, seja de fundo psiquiátrico ou induzida por medicamentos.


Causa da insônia crônicaExplicação
EstresseO estresse é uma das causas mais comuns de insônia crônica. Eventos estressantes podem consumir energia mental e causar tensão física, dificultando o relaxamento e o sono. Isso pode levar à dificuldade em adormecer, permanecer dormindo ou dormir tranquilamente.
Abuso de substânciasO abuso de substâncias, incluindo o uso de álcool, cafeína, nicotina e outras drogas, pode interferir no ciclo natural de sono-vigília do corpo e interromper o sono. Além disso, o abuso de substâncias pode levar a outros problemas, como ansiedade e depressão, que também podem contribuir para a insônia.
Condições médicasCertas condições médicas podem levar à insônia crônica. Estes incluem dor crônica, asma, refluxo ácido e distúrbios da tireóide. Além disso, alguns medicamentos usados para tratar problemas médicos podem interferir no sono.
Fatores AmbientaisFatores ambientais também podem interferir no sono. Estes incluem ruído, luz e temperatura. Além disso, o trabalho por turnos ou o jet lag podem prejudicar o ritmo circadiano natural do corpo e dificultar um sono reparador.
Problemas de saúde mentalProblemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático, podem causar insônia. Isso pode ser devido aos efeitos psicológicos e fisiológicos do distúrbio, como pensamentos acelerados, excitação elevada e dificuldade para relaxar.

Diagnóstico de insônia

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A fim de avaliar a origem da insônia, pesquisadores estabeleceram três categorias de fatores:

  • Ambientais: exaustão, fadiga excessiva, consumo abusivo de alimentos com ingredientes estimulantes, como cafeína. Por exemplo: café, refrigerantes à base de cola, chocolate, chá-mate
  • Fisiológicos: geralmente pessoas que sofrem dispepsia (sintomas variados que se manifestam na parte inicial do aparelho digestivo) e de disfunção temporomandibular alegam sofrer de insônia
  • Psicológicos: emoções como ansiedade e medo interferem na qualidade do sono.

Determinar se um ou mais dos fatores apresentados acima tem influência em cada caso de queixa de insônia é fundamental para um médico. Portanto, o primeiro passo na avaliação é a investigação através do histórico do paciente.

Alguns sintomas que por ventura acontecem à noite em associação com a insônia precisam ser relatados ao médico. Por exemplo, ronco, sonambulismo, movimento de pernas, refluxo gastroesofágico e outros.

O exame físico acompanha o questionamento, devendo incluir a aferição do peso, altura, batimentos cardíacos, pressão arterial e cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC).

Também se faz importante o exame da face e crânio com o objetivo de verificar se existem alterações estruturais como atrofia nasal, arco palatal estreito, hipertrofia das tonsilas e outros desvios da normalidade.


Exames de sangue e imagem para diagnóstico diferencial e avaliação de insônia crônica

Certos fatos relatados aos médicos os levam a pedir exames específicos. Por exemplo, no caso de o paciente apresentar queixas de origem neurológica (perda de memória, fraqueza ou sensibilidade reduzida nos membros inferiores), o profissional pode solicitar um exame neurológico. Já quando o insone informa sentir muita sonolência diurna, é possível que o médico queira avaliar um exame de polissonografia.

Teste de laboratórioFinalidade
Níveis hormonaisPara determinar se algum desequilíbrio hormonal está causando insônia.
Testes de função da tireóidePara determinar se um desequilíbrio da tireoide está causando insônia.
Hemograma completo (CBC)Para identificar possíveis anemias, infecções ou outras condições médicas subjacentes.
Exames de urinaPara verificar quaisquer condições médicas subjacentes que possam estar causando insônia.
Estudos do sono (polissonografia)Para ajudar a determinar a causa da insônia e fornecer informações para o tratamento.

No exame de polissonografia, é solicitado que o paciente durma em uma clínica, uma vez que os objetivos são avaliar a qualidade do sono e detectar os distúrbios que desvirtuam essa atividade. A pessoa a ser submetida ao exame pode levar seu próprio travesseiro.

Depois de instalar o paciente em uma cama confortável, o técnico fixa alguns eletrodos e sensores no corpo e cabeça desse. Algumas variáveis biofisiológicas precisam ser aferidas por esses sensores e registradas no sistema:

  • Atividade elétrica no cérebro
  • Vitalidade das camadas da retina dos olhos
  • Atividade elétrica nas células musculares, inclusive das fibras cardíacas
  • Movimento torácico e abdominal
  • Saturação de oxigênio na superfície do corpo.

Dependendo do caso, acabado o exame de polissonografia, pode ser feito o teste de latência múltipla do sono. Realizado na manhã seguinte, esse teste procura demonstrar sonolência.

O paciente é orientado a dormir, mas é submetido a avaliações de vinte minutos que espaçadas por duas horas.


Tratamento de insônia

como tratar insonia

Quanto à insônia aguda, talvez não haja necessidade de um tratamento, uma vez que ela tem caráter transitório.

Com o propósito de que o problema não se prolongue, os profissionais da saúde oferecem recomendações objetivas voltadas para a boa higiene do sono. Por exemplo:

Para o caso de insônia crônica, é recomendável intervenção médica. Os objetivos do tratamento nesse caso são:

  1. Melhorar a qualidade e a quantidade das horas de sono
  2. Melhorar os sintomas diurnos (se forem elucidados) associados à incapacidade de dormir

Na maioria das vezes, após procurar ajuda médica, o portador de insônia crônica recebe prescrição de medicamentos hipnóticos. Esses medicamentos pertencem às seguintes classes:

Como apresentam efeitos colaterais, vale lembrar que independentemente da categoria, todos os medicamentos devem ser usados sempre sob orientação médica.

A terceira classe (não-benzodiazepínicos) comporta agentes hipnóticos sintetizados mais recentemente. A duração dos seus efeitos é inferior à duração dos outros. Além disso, eles exibem efeitos limitados sobre ações psicomotoras e cognitivas com as quais o usuário precisar se envolver no dia posterior ao uso.

Existem tipos diferentes de intervenção comportamental orientadas para o tratamento da insônia crônica. Essas intervenções são recomendáveis como abordagem inicial, ou seja, anterior à farmacoterapia.

Elas podem ser aprendidas individualmente ou em grupo.

Alguns exemplos de terapias comportamentais:

  • De controle de estímulos
  • De relaxamento
  • De restrição de sono (reduzir o tempo dormindo com o objetivo de aumentar o desejo de dormir)
  • De intenção paradoxal
  • Atividade física.

Efeitos da Insônia no Corpo
Efeitos da Insônia no Corpo

Referências

Duckworth, D. (1873). Observations on the causes and treatment of certain forms of sleeplessness. British Medical Journal, 2(678), 747.

Neves, G. S. M. L., Giorelli, A. S., Florido, P., & Gomes, M. D. M. (2013). Transtornos do sono: visão geral. Revista Brasileira de Neurologia, 49(2), 57-71.

Passos, G. S., Tufik, S., Santana, M. G., Poyares, D., & Mello, M. T. (2007). Tratamento não farmacológico para a insônia crônica. Brazilian Journal of Psychiatry, 29(3), 279-282.

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

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Dra. Juliana Toma

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

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